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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

B.S.B.H: ORFÃOS DA NAÇÃO! O elo perdido do Punk Rock e do Crossover brasileiro!


 B.S.B.H. Orfãos da nação

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Texto por Pinduca retirado do blog http://pinducasblog.blogspot.com.br/


Eu tenho uma teoria sobre o disco Órfãos da Nação, lançado em 1989 pelo grupo BSB-H: acho que ele é a ponte entre o rock brasiliense dos anos 80 (Legião, Plebe, Capital, Escola de Escândalo, etc) e dos anos 90 (Raimundos, Oz, Little Quail, DFC, Os Cabeloduro e outros). A minha posição se baseia no fato de que o BSB-H, à época formado por Alex Podrão (vocal), Paulo Delegado (baixo), Grillo (guitarra) e Sérgio Bolacha (bateria), já estava antecipando muito do rock pesado que iria preponderar nos anos 90, mas ainda com alguns traços da década anterior.

Órfãos da Nação é o segundo disco do BSB-H, banda que nasceu de uma espécie de dissidência mais pesada do Detrito Federal. A estréia deles aconteceu em 1986, com o lançamento do álbum Ataque às Hordas do Poder, split com a banda Stuhlzapfchen Von "N" (que cantava em alemão (!) e viria a se tornar depois o ARD).

Se o primeiro disco o BSB-H era mais hardcore, no Órfãos da Nação a banda veio com uma produção mais elaborada e um som pautado no moderno estilo crossover, de bandas como DRI, English Dogs e, principalmente, Suicidal Tendencies. Esse passo à frente, fez com que eles deixassem de lado o punk mais clássico que havia influenciado Legião & Cia e se alinhassem ao som que a molecada estava curtindo na época. E quem seriam esses moleques? Exatamente os caras que formariam (ou já haviam formado) as bandas que despontariam em meados dos anos 90.

Além do som, outras variáveis contribuem para essa condição de elo entre passado e futuro do disco Órfãos da Nação. Em primeiro lugar, a temática das letras estava mudando: ainda existia o cunho de protesto político e social (Dead Neves e Digo Não), mas já surgiam músicas que falavam de skate, por exemplo (Skate ou Morra, Skate não é Crime e Power Banks). Neste ponto, o próprio visual da banda deixava de lado a influência do vestuário punk e pós-punk inglês e se aliava à descontração californiana (bandanas, bermudas, etc).

No lado mercadológico, o BSB-H também apontava para novos rumos: Órfãos da Nação foi lançado por uma gravadora independente, a paulista Devil Discos, revelando uma alternativa às majors. Além disso, o vocalista Alex Podrão, ao contrário dos membros de Legião, Capital e Plebe, era figurinha fácil na cidade. Você podia encontrá-lo num ponto de ônibus ou na loja da Devil, no Conic. Isso, para um garoto de 15/16 anos, não é qualquer coisa: afinal de contas, Podrão era aquele mesmo cara que havia aparecido na TV Globo, no programa Mixto Quente, no verão de 1985/86, tocando com o Detrito Federal.

É lógico que o BSB-H não estava sozinho nessa jornada rumo aos anos 90. Outras bandas da cidade, como Volkana, P.U.S., Filhos de Menguele e o próprio Detrito Federal (liderado por Cascão), também tiveram a sua fatia na história, mas nenhuma dessas conseguiu materializar um produto tão fechado concetualmente e num momento tão oportuno quanto o BSB-H, em Órfãos da Nação.

Não se pode esquecer também que todo um cenário de rock independente estava se estabelecendo no Brasil – principalmente em São Paulo. Do lado do rock pesado, bandas como Grinders, Lobotomia, Não Religião, Mercenárias, Ratos de Porão e outras também já estavam na mesma sintonia do BSB-H, deixando de lado as velhas influências dos anos 80 e com um pé nos 90’s. Além disso, uma outra corrente de bandas mais "leves", como De Falla, Kães Vadius, Violeta de Outono, Vzyadoq Moe e Picassos Falsos, também já traziam algo diferente do que se vira no começo da década. E não se pode esquecer do Sepultura, que trafegava numa via completamente inovadora e exitosa para o mercado brasileiro: cantando em inglês e lançando pela gravadora holandesa Roadrunner. Foi a mistura de isso tudo que acabou desembocando no que viria a se tornar mainstream no nos anos 90.

De qualquer forma, no meu ponto de vista, a garotada mais nova não tinha tanto saco para o rock cabeça de um Vzyadoq Moe, Akira S ou Fellini. Essas bandas vieram a influenciar caras que já eram mais velhos no final dos 80’s, como o pernambucano Chico Science, por exemplo, que chegou a gravar a música Criança de Domingo, do Funziona Senza Vapore (projeto de ex-integrantes do Fellini). É por isso que acredito que, em Brasília, o Órfãos da Nação, do BSB-H, tenha tido um efeito tão forte: veio ao encontro de uma molecada cheia de energia e, ao mesmo tempo, aberta para novas tendências.

PS: Se o Órfãos da Nação serviu como elo entre o rock brasiliense dos anos 80 e 90, o disco de estréia da banda Divine, lançado em 1997, para mim é a ponte entre os anos 90’s e 00’s do rock candango. Mas isso é assunto para outro post.

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