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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Entrevista: Arroto (banda) - Rio de Janeiro/Brasil


Retornando às entrevistas, após uma pausa nestas atividades, conversamos com uma das mais atuantes na cena streetpunk carioca e, com bastante experiência em suas gigs e gravações! Aqui, conversamos com nosso amigo Sidney, vocalista desta enérgica banda.

Vontade & Luta) Após dez anos, saiu seu álbum de estréia, com uma enérgica apresentação no Cine Lapa, no lançamento. Conte-nos um pouco de sua história!

Arroto) Bem começamos em meados de 2001. Eu, Sid(vocal) e Pedro (guitarra) já éramos muito amigos e resolvemos fundar o Arroto. Nos reunindo no meu quarto para fazer nossas músicas autorais começamos a fazer letras e músicas com amplificadores bem precários...Chamamos alguns chegados e iniciamos a banda...De 2001 pra cá muitas formações e mudanças nas influências do nosso som, percorremos alguns buracos do Rio de Janeiro e do Brasil mostrando nosso som e nossa atitude pra todo tipo de público...2 demos gravadas ao vivo e agora chegamos ao nosso primeiro CD , gravado e mixado por Marcelo Perrone(Super hi-fi) e Jorge Guerreiro.

V&L) Quando olham para trás, ocorreram mudanças na influência de seu som, ou são partidários de uma tradição sonora?

A) Na verdade, desde o começo nunca seguimos uma linha pré-definida de som....Sempre fomos abertos as influências que cada integrante tinha...Daí a grande variação de cada faixa do nosso CD...Eu e Pedro que compomos as letras e músicas, mas sempre damos abertura para pitacos dos integrantes. E acho que é assim que uma banda sobrevive e cresce musicalmente.

V&L) A música "Não" é, particularmente, minha predileta de seu CD. Existe alguma influência do niilismo punk da geração de 1977 nesta letra?

A) Com certeza...Essa letra foi composição minha (Sid) e escrevi a letra num momento em que tava bem desacreditado de muitas coisas : política, cena punk e da vida como um todo...Mas como a letra mesmo diz, é apenas o fato de negar as coisas e não aceitar algo pré-estabelecido. Não gosto de regras e foi por isso que escrevi essa letra.

V&L) "Resistência Oi!", nos primeiros versos, menciona o Rio de Janeiro, como uma cidade caótica e desesperada. Como é a relação de vocês com as outras bandas punk e Oi! de sua cidade?

A) Bem cara....Eu particularmente, não acredito no punk como um movimento e sim como uma cena. Cada grupo de amigos organizados e bandas formam uma cena. E acho que dentro dessa nossa cena agradamos alguns e desagradamos a outros....Não nascemos para agradar a todos...Já tocamos com diversas bandas punks daqui do Rio de Janeiro : Pacto social, Indigentes, Lacrau, Desvio de conduta....Tocamos inclusive no evento Baixada Punk 2, em São João de Meriti , no subúrbio do Rio...


Não somos muito bem vistos por muita gente por escutarmos som oi! e termos bandas oi!/ street punk como influência...Acho uma pena por que isso às vezes parte da falta de informação de alguns e as vezes do próprio pré-conceito das pessoas sobre o que é ser street punk.

V&L) Alguma vez o Arroto envolveu-se com alguma causa ou movimento político? Qual a relação de vocês com esta questão?

A) Bem, cada integrante da banda tem sua opinião política, mas não deixamos isso influenciar na banda. Acho que é natural cada um ter sua opinião política, ninguém é alienado ou analfabeto político. Nenhum de nós é envolvido com qualquer partido ou organização política. Nossa forma de resistência é tocar punk rock falando do que nos incomoda. Isso não necessariamente implica em sermos de esquerda ou de direita...

V&L) Quais e como seus integrantes inspiram-se para compor suas canções? Há uma criação coletiva ou iniciativas individuais e parcerias fora da banda?

A) Bem, nesse primeiro CD, as composições são basicamente minhas e do Pedro. Nossas inspirações são naquilo que vivenciamos e vemos na cidade e no mundo...Tudo que escrevemos sai muito naturalmente...Pegamos acontecimentos cotidianos e transformamos em música...Eu e Pedro temos uma facilidade muito grande em encaixar riffs e letras ...Geralmente em questão de minutos compomos uma música...Agora que temos novos integrantes na banda, pretendemos fazer novas músicas coletivamente para um próximo disco.

V&L) A banda possui uma postura claramente skunk. O que vocês tem a dizer sobre isto? Como vêem as culturas skinhead e punk na cena brasileira atual?

A) Bem cara...Vemos que muito da cena skinhead e punk está impregnada de política panfletária, seja de esquerda ou de direita...Nós cremos que a cultura punk e skinhead seja uma cultura de resistência e não de política....Nós procuramos nos unir com quem tem os mesmos ideais que os nossos, ou seja , ideais de união, sem a presença desses “ismos”. Acho que é assim que construímos uma cena, nos afastando dessas baboseiras panfletárias...O OI! em sua origem prega essa união de punks e skinheads. Tem muito skinhead que grita oi! mas adora pegar um punk de porrada. E tem muito punk que fala de paz , mas adora fazer uma covardia com quem não pensa igual a ele. Acho que temos que aprender a lidar com nossas diferenças de visual e guardar a política pra si mesmo em vez de envolver isso na música e na proposta da cena....Deixando nossos pré-conceitos de lado e nos unindo contra algo maior é que faz a diferença, e não se matando pelas ruas, até porque é isso que a grande mídia e os poderosos querem...Porque é assim que somos controlados mais facilmente.

V&L) Além do Arroto, seus integrantes tem outro tipo de atuação na cena alternativa carioca?

A) Bem..O Pedro está começando um projeto musical com um ex-integrante do Arroto. Eu, Sid estou envolvido com filmagem de eventos de rock e produção independente...O Roger e o Eric também tocam com outras bandas.

V&L) Quais suas ocupações profissionais e acadêmicas fora da banda? Torna-se difícil conciliar ou, ultimamente, ocorre uma flexibilidade maior?

A) Eu Sid , faço faculdade de Cinema e estou envolvidos com filmagens de eventos de rock como já tinha dito.

O Pedro faz um curso de gastronomia e é tatuador.

Eric trabalha com arquitetura e designer de interiores.

Rê é formada em engenharia metalúrgica e trabalha no meio.

Roger trabalha numa padaria e está terminando o ensino médio, devido a uns obstáculos que enfrentou na vida...

V&L) Próximas apresentações e, também, algum trabalho inédito pela frente, no forno?

A) Bem, nos apresentaremos dia 24/10 no Teatro Odisséia junto ao Garotos Podres, lenda do punk rock oi! nacional. E sim, estamos trabalhando em novas músicas já que esse governo dobradinha Sérgio Cabral e Eduardo Paes nos deu muita inspiração com seus choques de ordem, muros de contenção em favelas e até o envolvimento com grupos para-militares de milicianos.

V&L) Realizaram gigs fora de sua cidade? E como foram?

A) Já sim...Tocamos em Leopoldina_MG num Gig punk com bandas do sudeste todo...Também tocamos em Itatiaia, interior do RJ...E também tocamos em Santos, litoral de São Paulo no evento Die Hards da Moonstompers Crew. Acho que todos eventos fora da cidade fomos muito bem recepcionados e esperamos voltar pra todos esses lugares que tocamos. Santos foi um local onde tivemos muita afinidade com o pessoal pela cena e união que vimos na galera de lá...Criamos uma amizade muito grande com o povo de lá. Eu cheguei até a trazer a banda com qual tocamos em Santos, chamada The Ticks, para tocar num evento que produzi aqui no RJ...

V&L) Por favor, suas considerações finais! Com muita cerveja nesta hora?

A) Em vez de nos matarmos nas ruas por causa de visual , de gangue ou coisas do tipo, temos que nos unir contra quem quer nos controlar/dominar....Em vez de fazer gangue com pensamentos políticos , temos que resistir nos unindo e bebendo cerveja!

V&L) Muito obrigado! Resistir sempre!

A) Obrigado você Pierre, pela chance de esclarecer sobre o que a banda acredita e pensa . Uma maneira independente de disseminar a informação da cultura underground.

Disponibilizamos o primeiro álbum do Arroto, lançado em 2010, para que conheçam seu som.

http://www.megaupload.com/?d=K3BQJD53 - Arroto!

Contatos com a banda: www.myspace.com/arroto

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