sábado, 29 de janeiro de 2011

Entrevista: Anti - Hippie Fanzine (Finlândia)

Retornando com nossas entrevistas, apresentamos, para quem ainda não conheceu, esta publicação que tem despertado polêmicas nas frias terras escandinavas. Conversamos com seu editor, Tim, para que ele exponha o que significa seu trabalho na tradicional cena finlandesa.

Vontade & Luta) Como iniciou o Anti-Hippie?

Anti-Hippie) Por que iniciei o Anti-Hippie? Bem, eu queria lançar e isto é tudo, basicamente... Mas, sendo sincero contigo, comecei o zine simplesmente porque estava de saco cheio! Você sabe, há uma época em sua vida que você gostaria de ler algo que curta, e a imprensa mainstream é uma coisa que odeio ler! Simplesmente isto! Todo zine que chegava eram em alemão, espanhol ou outra língua que eu, simplesmente, não entendia. Quando comecei a procurar alguma coisa para ler, entendi que a única maneira para conseguir algo decente para ler começava por mim. O início não foi fácil, nunca usara um computador antes e todas estas coisas com máquinas eram absolutamente novas para eu mesmo e, paralelamente, ninguém quer tratar contigo, dependendo se conhecem seu passado. Diversas vezes tive de responder “quem é você?”. Foi uma época pastosa, precisei enviar 1000 entrevistas por aí e destas, fiz meu primeiro número, há 3 ou 4 anos atrás. Após o lançamento do primeiro número, a coisa ficou frenética, posso dizer, e nossa cena local não é mais a mesma, pois criei uma ameaça. Obviamente todos estes guerreiros locais de internet começaram a espalhar rumores sobre minha pessoa e meu zine. Não encontrei nenhum fundamento para ser boicotado pela política punk deles, e de mão em mão mais pessoas me apoiavam e a galera mais antiga também, dizendo “obrigado Deus, tem alguém ali que não segue uma tendência”, que é o crust aqui, na Finlândia.



V&L) Lendo seu último número, principalmente o artigo sobre crust core, vejo que o Anti-Hippie não se prende apenas em gêneros musicais como Oi!, punk-rock e ska. Por favor, explique para nossos leitores porque escreveu sobre crusties e crust core.

AH) Nunca me prendi em um gênero, simplesmente por que isto é chato. Por que um artigo sobre crust? Realmente não tenho idéia como está no Brasil neste momento, mas aqui na Finlândia parece que o crust é a única tendência e infelizmente você tem todo tipo de gente estúpida envolvida com isto. Uma pessoa é cega (ou estúpida) bastante para não ver o que realmente está acontecendo aqui. Pessoas para quem o crust é legal e é IN se tornar um. Pessoas que constroem seus novos padrões idiotas parecem que gostam que qualquer um siga sem questionar. E há gente como eu, que está farta desta tendência neo-fascista. Eles não querem ver minha cara em suas gigs, vivem olhando com suspeita. Para eles, sou estúpido simplesmente porque não me curvo ou sigo sua linha. Se isto não é outra forma de fascismo então eu não sei o que é, você sabe. Existem algumas ótimas pessoas, de quem sou amigo, mas estou falando sobre tendenciosos. A idéia deste artigo foi sacudir a mente das pessoas, que observem ao redor delas mesmas, mas por outro lado serei acusado de fascista, NOVAMENTE!

V&L) As bandas punks finlandesas são idolatradas na cena brasileira desde o início da década de 80. O que você acha quando compara estas diferentes épocas da música punk finlandesa?

AH) Sim, eu sei que vocês adoram nossas bandas e, para ser honesto com você, vivo na cidade onde surgiram essas grandes bandas punk hardcore finlandesas, como Kohu 63, Kaaos, Tampere SS e outras mais... Sei que a Maximum Rock ´n´ Roll chamou nossa localidade de uma cidade de lendas do hardcore! Todo ano temos um evento punk, há sempre alguém do Brasil e eles apenas veneram o solo onde pisam. Encontrei um rapaz que vendeu o que tinha em seu apartamento para conseguir chegar ao festival e ver o Kaaos. Esse tipo de fanatismo e dedicação nunca vi antes, honestamente. Curto nossa cena local e, no fim do dia, você encontrará todo tipo de gente, sem maiores problemas, somente os crusties parecem causar tumulto. Mas se você observar as bandas antigas de nossa área, elas parecem ser mais honestas e brutais e menos falsas, porque a vida foi dura aqui, não como agora, quando todos estes crusties simplesmente pagam para ser pobres e não param de usar o Visa do papai quando ninguém vê. Parece que as pessoas dos anos 80 são mais pé no chão e recusam seguir uma tendência. Sendo claro, eles tem menos lugares para tocar e poucos selos para gravar. Mas você sabe, eles tem um sentimento verdadeiro nisto, apesar de tocar em bandas precárias, você sabe... Hoje você tem todos estes estúdios profissionais e um monte de merda de selos, clubes pequenos e nem tão pequenos para tocar, alguns festivais mas eles perderam o verdadeiro sentimento do punk. É o mínimo que vejo.


V&L) O que você tem a dizer sobre os skins finlandeses? Como surgiram os primeiros skins na Finlândia? Nós sabemos demais sobre as bandas punks finlandesas. Então, fale mais sobre as primeiras bandas Oi! finlandesas!

AH) Aha! A pergunta da entrevista! Muito bem feita, parceiro! Para ser honesto é como em qualquer lugar neste nosso vasto mundo. É difícil falar sobre este assunto, ainda mais que a cena skinhead local está dando passos de bebê. É tão pequena e tão pequena que você conhece qualquer um envolvido neste país, e então, estamos falando sobre o que aqui? Um buraco de merda para mim, se você comparar com a Alemanha ou Brasil. Atualmente meu zine é o único na Finlândia dedicado ao Oi!/streetpunk e skinhead. Então você imagina que tipo de ataque sofri da maior parte das pessoas, não é comum ter este tipo de zine aqui. Mas organizei e construí alguma alternativa, procuro ver novas bandas aparecendo, bandas que sabem que há alguém para apoiar. Estou mais do que satisfeito com isto. Realmente um tipo único de coisa aqui na Finlândia, mas eu me recuso tirar proveito disto, eu apenas quero fazer o melhor, isto é tudo.

V&L) Escutando uma de suas produções da Bruised Knuckles Records (Backstreet Yobs Compilation), vejo diversas bandas não-finlandesas, como The Pauki (Rússia), Rust (Austrália) e Those Unruly (USA). E fiquei orgulhoso de ver o split da Mão de Ferro/Facção Opposta impresso em seu selo. O que você conhece da música Oi! brasileira além do Mão de Ferro? E fale mais sobre seu selo (Bruised Knuckles) e como consegue manter ter este trabalho.

AH) Francamente, vejo meu selo e distro como um crescimento natural. Isto é algo que está chegando, fazendo o zine e os materiais, pessoas enviam seus discos e vários outros chegaram como resultado de trocas com outros selos, bandas e indivíduos. Novamente, não há outro selo aqui na Finlândia que realize algo sólido no streetpunk. Sim, nós temos alguns selos lançando algumas bandas locais do que eles chamam de “streetpunk”, mas isto não é nada mais do que uma cópia do Rancid, assunto encerrado. A idéia de meu selo é dar às bandas underground uma voz. De fato, tenho uma compilação brasileira saindo a qualquer momento com bandas mais ou menos novas no Brasil. Sou o tipo que está antenado com o que está acontecendo em nossa cena, para ser honesto. O que curto nas bandas brasileiras é que elas ainda possuem a paixão, ainda gravam sua música em outros subsolos, coisas e padrões distantes da Europa. Se você não tem uma instalação profissional, você é um perdedor mais ou menos, quando as coisas dão errado? Uma vez quem deu uma tendência a seguir!!?

V&L) E por que o nome Anti-Hippie? Há um monte de hippies atrasados em seu país? Pessoas que não viram os anos 60?

AH) Esta pergunta foi feita várias vezes. Honestamente! A principal razão porque dei este nome, porque Anti-Hippie é curto, rápido e fácil de lembrar. E causa reação nas pessoas, você sabe. Se você quer permanecer fora das massas você tem que ter culhão, qualquer um parece usar a palavra Oi!, mas você sabe que não é trabalho para mim. Tão comum que nós todos temos estes hippies seguidores de tendência, com sua própria merda. Desde que procurei agitar nossa cena um pouco, e paralelamente minhas perspectivas, hippies são saco de lixo racista atrasado. Se você não gosta deles você não é ninguém. E que porcaria é esta?


V&L) Como você vive? Trabalho, família, etc.

AH) Tenho circulado pela cena punk desde que meu cérebro começou a pensar por conta própria, quando entendi o que era isto e muito mais do que é, ainda que a imprensa estabelecida diga. Tenho forte formação de classe operária, trabalho há 23 anos e agora tenho família para sustentar. Não tenho papai para me dar seu último Mercedes Benz. Qualquer coisa que eu tenha, consegui por conta própria. Sou um homem muito pobre, mas tenho um monte de discos :)!


V&L) Por favor, suas últimas palavras para nosso Oi!blog!

AH) Se alguém ficar incomodado ao ler esta merda direi apenas: comece um zine você mesmo. Dificilmente pagarão você com dinheiro, mas com amizades mundo afora. Bandas por favor enviem suas demos para mim, mas nada de download de MP3. Querendo minha atenção, envie seu verdadeiro material! Apóie a cena, não seja um desperdício de espaço!

V&L) Obrigado Tim! Grande fanzine!

AH) Você é bem vindo!

Contatos: www.myspace.com/oibootboy

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