Há tempos precisava publicar esta entrevista! Ainda mais com uma personalidade como Jenny! Inteligente, criativa, delicada e bastante atenciosa são alguns de meus elogios à esta jovem compositora canadense! Habitante de um belo país, Jenny concedeu esta entrevista. Colaborando com a tradução, meu amigo e companheiro de banda Primata, do blog Letras Punk www.letraspunk.blogspot.com! E seu trabalho foi bem pesado: as respostas de Jenny são enormes! E deixo vocês, nobres leitores deste humilde Oi!blog zine, com suas palavras e, no final, seu CD-demo para divulgação de seu trabalho. Confiram!
Vontade e Luta) Como iniciou seu projeto musical? E você tocou em outras bandas antes de seu trabalho?
Jenny Woo) Eu toquei em muitas bandas da cena Oi! e Punk do leste do Canadá. Atualmente eu toco na banda de Oi!/Streetrock chamada Kroovy Rookers como guitarrista, e também toco na banda de Rock'n'Roll de longa data, The Borderguards, dividindo as tarefas da guitarra.
Minha atuação solo-acústica iniciou quando comecei a escrever algumas canções em casa no meu violão. Elas eram uma espécie de baladas, influenciadas por bandas como Ultima Thule e Badlands, e não se encaixavam muito bem com o som que eu fazia nas outras bandas que tocava na época. Então eu decidi levar essas músicas pro bar e tocá-las solo pra ver o que as pessoas achariam. Pra minha surpresa, eu tive uma reação bastante positiva e decidi levar mais a sério, gravei uma demo no estilo DIY das minhas canções. Daí coloquei as gravações na internet e distribuí aos meus amigos, sem muita expectativa. Eu fiquei chocada com tanta reação que vi no meu myspace, e em pouco tempo assinei com a Randale Records pra fazer uma gravação completa dos meus sons. Eu acho que as pessoas estavam interessadas no som diferente das canções, cujos acordes provavelmente tocaram um monte de gente que gosta de Johnny Cash e outros sons acústicos. Foi dessa maneira que minha música solo-acústica teve início, como um pequeno projeto paralelo que eu fazia só por distração e experimentação, e tornou-se algo muito maior: um sonho virou realidade!
V&L) Vejo colaborações em suas gravações. Você tem parcerias em suas gigs?
JW) De tempos em tempos eu toco com diferentes pessoas no palco. Eu tenho um grande amigo, Steve, que tem me acompanhado no violão em umas Gigs. Acho que estar sozinha no palco é uma trabalheira, pois se tem que manter o público envolvido totalmente só, além de ser bem comum que o som fique fraco quando se tem só uma pessoa tocando e cantando. Então ter outra pessoa comigo no palco possibilita balancear a apresentação, e também fazer imediatamente um som mais forte.
Mas mesmo assim, eu toquei a maioria dos meus shows sozinha, porque é muito mais fácil organizar ensaios e datas dos shows quando se tem apenas uma pessoa pra acompanhar.
Na gravação, no entanto, eu incluí vários amigos meus pra fazerem 2ª voz, pra tocar baixo e também percussão. Eu decidi incorporar muitas outras pessoas no álbum, porque penso que é bom reunir diferentes talentos e estilos numa gravação. Acho que soa mais completo e um tanto mais interessante. Eu tenho sorte de ter amigos que não são apenas talentosas, mas também dispostas a dar uma mãozinha.
V&L) Oi!, ska e streetpunk são sons muito populares na cultura skinhead, principalmente em gigs! Eu não lembro, além de Frankie Flame, Half Man Half Biscuit e Attilla The Sockbroker, sons acústicos em shows de skinheads. Como foi sua primeira gig neste formato? E as reações?
JW) Eu admito, “skinhead rock'n'roll acústico” soa paradoxo - as pessoas costumam pensar que a música skinhead presumidamente tem que ser barulhenta e agressiva, e baladas acústicas não costumam se encaixar nesse presuposto. Mas eu tô convicta de que muita gente fez isso no passado, e o fez muito bem. Pessoas como Franky Flame de fato foram pro purgatório por usarem teclados e violões em sua música, e acho que é isso que diferencia sua música e a faz permanecer distinta do "Oi! típico". Em minha vida, eu ouvi um monte de bandas que soam exatamente como milhões de outras bandas, e não tem nada de interessante em ouvir os mesmos power acordes em toda música, que discorrem sobre "cerveja/brigas/sexta-feira à noite". Eu acho que todo mundo anseia por um pouco de diversidade no quesito musical, então por quê não tentar algo diferente? Bandas como Discharger e Ultima Thule, entre outras bandas RAC, desempenharam isso, utilizando-se de canções acústicas pra revelar a alma e o significado de suas músicas. Nem sempre se pode fazer isso com distorção e um jogo de bateria, algumas vezes você tem que recorrer ao básico, e é por isso que eu decidi escrever e gravar Oi! acústico.
Eu acho que fazer algo diferente demanda bastante coragem, e quando eu comecei esse projeto receei que as pessoas não estariam receptivas a ele. Embora minhas canções acústicas sejam bastante envolventes e espirituosas, elas definitivamente não soam pesadas ou barulhentas, por isso pode ser difícil tocar um set pra um público que espera ouvir algo como Agnostic Front. Em minhas primeiras apresentações eu tive bastante apoio dos meus amigos, que acreditaram em mim, mas também recebi algumas críticas de pessoas que pensam que música skinhead tem que ser aquela batida oi! retona, 4 por 4. Eu reagi a essas críticas acrescentando algumas faixas de música Oi! não-acústica com banda completa no meu álbum que está por vir. Eu gosto de Oi! tradicional, e acho que os sons que gravamos são ótimos. Porém continuo por trás de minhas canções Oi! acústicas e apresentações ao vivo, e sei que elas têm o espírito skinhead em de termos de significado e estilo. É ótimo ver que a platéia nos meus shows cresce, e acho que as pessoas começaram a valorizar que minha música pode ser diferente, e que mesmo assim mantém o entusiasmo e a alma do movimento skinhead.
V&L) Fale sobre suas influências para fazer suas canções!
JW) Eu escuto um monte de bandas atuais da Europa, como Evil Conduct, The Cliches, Ol' Cunts, On File, e coisas do tipo. E obviamente Cock Sparrer, The Business, e todo o resto de clássicos que fizeram a trilha sonora da minha vida, portanto tenho que dizer que sou influenciada por eles. Eu escuto também um monte de bandas locais canadenses, como Knucklehead e Alternate Action. Todas essas bandas me deram algo do que cantar e realmente me inspiraram a escrever músicas. E falando do lado acústico da coisa, eu tenho bastante influência de country e folk alternativo, como Johnny Cash, Corb Lund e Billy Bragg.
V&L) Minha música predileta é “Our Oi! Music Song”. Por favor, fale sobre esta letra!
JW) A música é sobre a vida do trabalhador. É sobre acordar cedo pela manhã todos os dias, pra fazer as mesmíssimas coisas: trabalhar num emprego comum e insatisfatório que paga somente o suficiente pra que você se mantenha vivo pra poder continuar trabalhando. A música fala sobre como é ser apenas mais um empregado que trabalha pra satisfazer o sonho daqueles que estão no topo, mas que não faz nada pelos próprios sonhos. É sobre a vida deplorável e penosa que a maior parte da classe trabalhadora vive. Mas é também sobre como eu e meus amigos superamos esta espécie de vida tediosa e sem valor, por meio da formação de uma coletividade baseada em bares locais, bandas locais e heróis locais. Embora mal façamos dinheiro suficiente pra sobreviver, e mesmo que nunca nos satisfaçamos com nossas vidas de trabalhadores, a gente tem amigos, família, e música pra que voltemos pra nossos lares à noite. E é isso que faz tudo valer a pena.
V&L) Além da música, o que Jenny faz? Estudos, emprego, diversão, políticas e mais?
JW) Bem, como você provavelmente percebeu até agora, boa parte da minha vida é fazer som, e muito do meu tempo é usado pra ensaios, apresentações e gravações. Mas também faço com minha melhor amiga um zine independente chamado "Subculture Spirit". A gente lançou apenas dois números, mas nossa meta é instituir um zine canadense de qualidade que abranja Mod, Skinhead e outras contraculturas. Até agora já fizemos entrevistas com Franky Flame, The Templars, The Corps e outras bandas do sudeste da Ásia, como a The Official. Têm sido bem legal até o momento, e já estou à espera do nosso terceiro número que sairá nesse outono.
Eu tenho muito interesse por filosofia, e acabei há pouco tempo meu mestrado em Filosofia Política (mas, por favor, não me pergunte sobre política, eu mantenho minhas opiniões políticas e minhas amizades/músicas separadas disso!). Infelizmente não há muitos empregos na área de filosofia, portanto no momento trabalho na área de comunicação (fazendo folhetos, boletins informativos e edição de sites).
Ano que vem, no entanto, eu vou pra escola de Direito em Toronto. Essa é uma carreira que eu nunca pensei que iria seguir, mas parece que é a melhor forma de me desenvolver pra me articular, e melhorar a vida dos outros.
Falando de descontração: bem, passar o tempo com meus amigos em festas, ir a shows, ao cinema, e viajar o máximo possível.
V&L) Como é a cena skinhead e punk canadense? Curto as bandas de seu país, como Prowlers, The Brutes, Random Killing, Subhumans, The Viletones, etc. E como vivem skins e punks em sua cidade?
JW) Quando eu penso na cena punk e skin canadense, eu não sinto nada menos que orgulho. Há muita gente por aí que diria que já não é mais como era antes, ou que todas as bandas que prestavam não existem mais - The Prowlers, Brutes, Lancasters, Subway Thugs, Emergency e Alternate Action estão todas desfeitas agora, mas eu acho que é importante ficar ligado no geral das bandas novas que estão se empreendendo, e também no geral das bandas já estabelecidas que continuam tocando. Há um monte de bandas novas e antigas que continuam fazendo turnê e lançando releases fodas - por exemplo, The Frostbacks, Bootprint, Alternate Action, Coup de Masse etc. O problema com o Canadá é que se trata de um país muito extenso e isso dificulta as bandas fazerem turnê, incorrendo que bandas bem conhecidas no leste do Canadá sejam relativamente desconhecidas no oeste canadense, e vice-versa. Outra coisa que não ajuda é a divisão por conta da língua, entre o inglês e francês. Mas acho que organizadores de shows e distribuidores bem associados têm ajudado a sanar essa divisão, e com o surgimento do myspace, nossa cena nacional está mais unida e definitivamente melhor conectada como nunca esteve.
Em Edmonton, a cidade onde moro, não consigo me lembrar de um tempo melhor pra ser um punk ou skinhead. Há muitos talentos nessa cidade, e acontecem ótimos shows toda semana. Um amigo meu tá comandando um novo bar punk/skin chamado DV8, que tem feito maravilhas fornecendo um lar pro Oi! local, pra bandas punk e trazendo ótimas bandas em turnê pra nossa cidade. Nós temos uma galera skinhead bem concisa aqui, e eu não poderia pedir um melhor grupo de amigos. Se você quiser algum dia visitar Edmonton, fale com qualquer um de nós e eu tenho certeza que a gente se juntaria pra tomar uma cerveja com você!
V&L) Algumas leituras inspiram suas obras? Quais seus escritores, gêneros e mídias favoritas? E fanzines?
JW) Embora eu leia livros ocasionais e assista a muitos filmes, devo dizer que meu passatempo favorito definitivamente é colecionar e ler fanzines. Eu admiro como os fanzines são uma parte da história, de como são DIY, e também de como são feitos com sentimento. Eu tenho uma pá deles em casa, que consegui por pedido, que trouxe de alguma viagem, ou de alguma troca. Meus prediletos são "Une Vie Pour Rien?" (pois é extremamente bem feito, bem escrito, e tem entrevistas extremamente interessantes), "Riot '77" (também muito bem feito, com entrevistas longas e detalhadas), e "No Bollox Just Oi!" (um zine romeno entusiasta). Tenho também na minha coleção um bando de zines dos anos 70, 80 e 90 que são muito fodas, por terem sido escritos em épocas diferentes. Há algumas coisas que permaneceram as mesmas, mas muita coisa mudou também - isto é, a gente não consegue mais demos em fita!
O fato de alguém poder se entusiasmar tanto com uma subcultura, de forma a dedicar seu tempo e dinheiro escrevendo e imprimindo fanzines é definitivamente inspirador. E também o fato de nossa cena de subcultura ter uma imprensa independente é impressionante, e os fãs e contribuidores que fazem zines são a espinha dorsal de nossa coletividade. Vida longa aos Zines!
V&L) E quando veremos novas canções? Breve?
JW) Uau, eu nunca imaginei quanto tempo levava pra gravar um álbum inteiro até eu ter a intenção de fazer um. Eu comecei a gravar minhas canções em novembro de 2009, e elas tão sendo masterizadas agora, fins de abril de 2010. Tem sido um processo longo, e tem havido altos e baixos, mas espero que o produto final seja bom. O álbum deverá ser lançado neste verão (inverno no Brasil) pela Randale Records - eu tenho certeza que você poderá fazer um pedido por eles, ou pelo seu distribuidor local!
V&L) Por favor, diga suas últimas palavras para nossos leitores!
Muitíssimo obrigada pela entrevista, e muitíssimo obrigada por ler e por apoiar sua cena. É maravilhoso ver e ouvir que a contracultura skinhead seja tão forte na América do Sul, além de ser surpreendente ver que em todo lugar do mundo há grupos de pessoas que têm algo em comum. Fique firme, orgulhoso e livre.
Adquira o trabalho de Jenny Woo aqui!
http://www.megaupload.com/?d=Y89GGJ1A
Contatos e página de seu trabalho: www.myspace.com/jennywoooiproject