sábado, 20 de fevereiro de 2010

Entrevista: Última Classe (banda) - Santos/SP


Lançando seu CD-demo ano passado, apresento-lhes uma banda que, através de suas letras, literalmente "metem a porrada" no sistema! Retratando a realidade da classe trabalhadora, sem demagogias ou teorias. Simplesmente, cantam sua realidade. Aqui no Vontade e Luta, encontramos a exposição de suas concepções!

1) Quem são Última Classe? E o que fazem e acreditam?

A Última Classe é formada pelo Bruno (bateria), Alcides (Guitarra), Ângelo (Baixo) e Ronaldo (voz), todos trabalham para pagar suas contas, o Bruno é funcionário publico em Santos e é formado em História, o Alcides trabalha em um arquivo em São Paulo e também é formado em História, o Ronaldo é professor da rede pública e claro....leciona História! Já o Ângelo é tatuador e fotógrafo e o único na banda que não é formado em História. Acreditamos em muitas coisas, nossos amigos, mulheres e nossas famílias, nossos times de futebol.
Não acreditamos em religiões e embora a banda não seja para nós uma plataforma política e nem mesmo filiada a nenhuma corrente ideológica, não nos consideramos apolíticos, nos colocamos sempre à esquerda, de um ponto de vista socialista, libertário, afirmativamente antifascista e anti-racista. Acreditamos que classe trabalhadora deveria ter o poder, pois é a força vital da sociedade. Não acreditamos em baboseiras pós-modernas e nem em intelectualismo barato e detestamos a hipocrisia do “politicamente correto”.

2) Excelentes bandas saíram de Santos, como Tropa Suicida e Soldados do Asfalto, por exemplo. Como surgiu a banda?

A banda surgiu entre o final de 2008 e o começo de 2009 a partir de conversas informais entre uma cerveja e outra, uma tatuagem e outra....A idéia era nos reunir para tirar um som dentro daquilo que sempre foi referência para nós no Punk Rock, no Oi! e no Rock’n”roll e nos divertir fazendo algo que gostamos. Nesse começo o baterista era um outro camarada nosso, o Sabugo, que precisou sair da banda pois havia mudado de cidade. Com a entrada do Bruno os ensaios se intensificaram e veio a gravação da demo e as primeiras apresentações.

3) Como é a cena em sua cidade?

Não sei se é possível afirmar que exista uma cena aqui. Existem algumas bandas, existem pessoas, mas é tudo muito fragmentado e disperso. Entendemos que existe uma cena, quando há atividade coletiva, ou seja, quando as pessoas articulam ações, que podem ser desde a organização de gigs, formar bandas, publicações, eventos que impulsionem a formação de uma coletividade que compartilhe símbolos de identidade comuns, para nós isso seria uma cena, não vemos isso acontecer aqui. Santos está uma cidade envelhecida demais, conservadora e provinciana, uma cidade dominada por construtores se shoppings centers e prédios de luxo para a classe média alta e a burguesia.

4) "Fora da Lei" chamou-me muito a atenção, assim como "Violência". Gostaria de sua exposição sobre o conteúdo destas letras.

No caso de “Fora da Lei” é a tentação do consumo e do usufruto de um bem-estar que é negado que gera uma situação de raiva e falta de perspectivas que atinge milhares de jovens no Brasil, viver numa grande cidade como São Paulo, por exemplo, onde existem ilhas de luxo e riqueza contrastando com a miséria da maioria é algo que provoca a revolta. Se esse jovem não consegue enxergar uma saída coletiva pra essa situação, essa revolta acaba em muitos casos sendo canalizada para o crime. Uma boa parte da letra tem a ver com uma história real.
“Violência” é basicamente sobre ganguismo estúpido e burro, não iríamos jamais fazer uma letra enaltecendo a burrice, então “Violência” surgiu mais como uma forma de retratar uma situação que também não é totalmente fictícia, mas que afeta e já afetou muito a cena de SP. Vemos o tempo todo histórias de jovens que morreram, mataram ou foram pra cadeia por causa de burrice ganguista. E entendemos que essa sociedade em que vivemos não se importa com essas pessoas, pois no final das contas só servem para produzir manchetes sensacionalistas, aumentar a população carcerária e dar pretextos para o governo aumentar ainda mais o alcance de seu aparato repressivo. Não somos pacifistas adeptos do “paz e amor”, mas nos recusamos a apoiar a idiotice.

5) Quais bandas influenciaram seu trabalho? E o que vocês escutam ultimamente?

São várias... é até difícil falar, mas podemos dizer que nossas influências vão de bandas clássicas do punk rock como The Clash e Pistols, passam pelo Oi! de bandas como Garotos Podres, Cockney Rejects, 4 Skins, The Oppressed, Business e pelo som mais rápido de bandas como GBH e Defiance.
Ouvimos diferentes coisas, além de Oi!, Punk setentista e HC, que são nossos alicerces em termos de sonoridade. A lista é grande e variada e abrange desde Adoniran Barbosa e Cartola à Slade, Motorhead e AC/DC.

6) Fale-me de Flávio Prado. Por que odeiam esta pessoa?

Não odiamos essa figura porque não é nem digna disso. Na verdade a letra de “Jornalista de Merda” pode ser dedicada a qualquer jornalista filho da puta. Na gravação nos referimos ao Flávio Prado porque precisávamos de um nome para colocar na letra e ele é um defensor de um futebol elitizado, com ingressos caros e de acesso apenas a pessoas de elevado poder aquisitivo, o que significa na prática a proibição do trabalhador e do torcedor oriundo das periferias de freqüentar os estádios de futebol.
Mas como dissemos a letra pode ser adaptada a outros jornalistas, por exemplo, na nossa ultima apresentação substituímos o nome Flávio Prado, por Boris Casoy, por causa das ofensas que esse babaca dirigiu aos trabalhadores da limpeza publica. Na verdade o que detestamos é essa mídia elitista, que se vende pra quem tem poder econômico e que manipula a informação e que na verdade só funciona como um vetor ideológico do poder econômico. Uma prostituta dos interesses dos ricos.

7) Além do CD-demo (por sinal, ótimo), sairá algo novo para este ano (2010)?

Sim... temos a intenção de lançar algo novo, ainda não temos nada certo, mas estamos vendo os meios de lançar um possível split com alguma outra banda e mesmo um cd nosso. Já temos algumas musicas novas e bases e letras nas quais estamos trabalhando.

8) Para encerrar, algumas palavras finais?

Primeiro queremos agradecer a você Pierre pelo apoio e pela entrevista, continue firme com esse blog. A todos que tiverem interesse em entrar em contato conosco existem as seguintes opções: Myspace - www.myspace.com/ultimaclasse; e-mail – ultimaclasse@gmail.com; e recentemente foi feita uma comunidade no Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=97869395. De resto o que temos a dizer é: Nunca se conformem com a ignorância; nunca se conformem com estereótipos; estudem e não sejam burros. Amem seus times, mulheres, amigos e família, nunca dispensem uma boa cerveja e uma boa conversa. Sejam capazes de se indignar diante da exploração, da manipulação e da injustiça. Saudações a todos os leitores!

9) Obrigado! Espero assistir seus shows!

Nós é que agradecemos e saiba que será sempre bem vindo em nossas apresentações e claro, esperamos poder tocar aí no Rio de Janeiro em breve.


Disponibilizamos, aqui no blog, o primeiro trabalho do Última Classe! Pegue e ouça!

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